quarta-feira, 7 de maio de 2008

Conscientizando para a realidade

Conscientizando para a realidade

"A permissividade não produz personalidades mais ricas, e sim, seres abúlicos*" (Anna Freud).
Uma das principais funções materna e/ou paterna é introduzir, aos poucos, a realidade para a criança. E a realidade é permeada de regras e frustrações nos pedindo muitas vezes para brecarmos nossos desejos. A criança precisa saber que possui um espaço delimitado no mundo, que esse não é permissivo como pode pensar.
Na medida em que nos permitimos introduzir esta realidade, potencializamos a criança a um melhor convívio com o outro. Pois ela começa perceber que precisa do outro, que vive em relações: dependendo do carinho do colega ou mesmo da cooperação deste para participar de um esporte coletivo, da atenção da professora, do amor dos pais.
A decisão de quando, quanto e como proibir se faz a tarefa mais complexa dos pais e dos educadores. É preciso limitar, mas não a ponto das repressões gerarem traumas.
Como dosar então a inserção da realidade no mundo da criança com algumas frustrações e ao mesmo tempo não frustrar excessivamente?
Devemos ter claro que é um ato de carinho e respeito pela própria criança dimensionar esse espaço: o que pode e o que não pode. Satisfaz sua curiosidade, e previne uma excessiva repressão. Para isso, é preciso pensar na possibilidade de se esclarecer e partilhar o porquê daquela regra, daquele limite, ao invés de impor a autoridade simplesmente dizendo não.
É estarmos cientes do significado de educar (tanto os pais quanto os educadores) que é o de adaptar a criança para o meio social adulto. Assim a nossa culpa diminui quando interditamos um desejo que não cabe: prejudicando o outro e/ou quando este desejo não reconhece sua condição real. Por exemplo: quando a criança começa a chorar para não ir à escola, pois quer ficar com sua mãe e esta precisa trabalhar.
Temos maior tranqüilidade em educar e impor limites quando clareamos o motivo da interdição para nós e para eles. Transformamos então a culpa em estratégia pedagógica.
Se estivermos conscientes de estarmos os capacitando a enfrentar futuras frustrações. Prevenindo situações inesperadas, sabendo que evita-las é utopia. Que ao lidarem com proibições no futuro, estarão equipados com ferramentas e poderão lidar com a proibição de forma menos traumática: o processo de educar se faz menos conflituoso e frustrante para as crianças, os pais e os educadores.
* abulia: Perturbação mental caracterizada pela ausência ou diminuição da vontade.
Juliana Corazza Scalabrin

3 comentários:

Unknown disse...

parabéns pelo trabalho Juliana. É de excelente qualidade e muito clara as suas análises. Parabéns.

Remo disse...

Ju, que bela e instrutiva reflexão sobre educação no desenvolvimento psicológico do ser humano você proporcionou com sua dissertação nesta página. A consistência de suas colocações e conteúdos me fez refletir sobre a validade de nossas convicções no permanente desafio de desenvolvimento. Aguçou minha percepção de que "a oportunidade de se re-significar e reorganizar a sua história, no seu espaço" existencial encontra na psicanálise uma poderosa ferramenta para clarear entendimentos e forjar seres humanos mais fortes e sadios. Parabéns, Remo.

Artedemão! disse...

Juliana, muito bacana seu blog... parabéns pelo trabalho... uma bj Maíra (da UNIP lembra?) rss

Um pouco da minha história Psi...

Minha foto
Profissional com mais de 14 anos de experiência clínica. Especialista em Saúde Mental pela UNIFESP. Cursa o 3 ano no curso: Formação em Psicanálise no Instituto Sedes Sapientiae. Convencida de que para exercer a psicanálise o tripé: Análise pessoal, supervisão e conhecimento teórico, tem que acontecer!