Conscientizando para a realidade
"A permissividade não produz personalidades mais ricas, e sim, seres abúlicos*" (Anna Freud).
Uma das principais funções materna e/ou paterna é introduzir, aos poucos, a realidade para a criança. E a realidade é permeada de regras e frustrações nos pedindo muitas vezes para brecarmos nossos desejos. A criança precisa saber que possui um espaço delimitado no mundo, que esse não é permissivo como pode pensar.
Na medida em que nos permitimos introduzir esta realidade, potencializamos a criança a um melhor convívio com o outro. Pois ela começa perceber que precisa do outro, que vive em relações: dependendo do carinho do colega ou mesmo da cooperação deste para participar de um esporte coletivo, da atenção da professora, do amor dos pais.
A decisão de quando, quanto e como proibir se faz a tarefa mais complexa dos pais e dos educadores. É preciso limitar, mas não a ponto das repressões gerarem traumas.
Como dosar então a inserção da realidade no mundo da criança com algumas frustrações e ao mesmo tempo não frustrar excessivamente?
Devemos ter claro que é um ato de carinho e respeito pela própria criança dimensionar esse espaço: o que pode e o que não pode. Satisfaz sua curiosidade, e previne uma excessiva repressão. Para isso, é preciso pensar na possibilidade de se esclarecer e partilhar o porquê daquela regra, daquele limite, ao invés de impor a autoridade simplesmente dizendo não.
É estarmos cientes do significado de educar (tanto os pais quanto os educadores) que é o de adaptar a criança para o meio social adulto. Assim a nossa culpa diminui quando interditamos um desejo que não cabe: prejudicando o outro e/ou quando este desejo não reconhece sua condição real. Por exemplo: quando a criança começa a chorar para não ir à escola, pois quer ficar com sua mãe e esta precisa trabalhar.
Temos maior tranqüilidade em educar e impor limites quando clareamos o motivo da interdição para nós e para eles. Transformamos então a culpa em estratégia pedagógica.
Se estivermos conscientes de estarmos os capacitando a enfrentar futuras frustrações. Prevenindo situações inesperadas, sabendo que evita-las é utopia. Que ao lidarem com proibições no futuro, estarão equipados com ferramentas e poderão lidar com a proibição de forma menos traumática: o processo de educar se faz menos conflituoso e frustrante para as crianças, os pais e os educadores.
* abulia: Perturbação mental caracterizada pela ausência ou diminuição da vontade.
Juliana Corazza Scalabrin